sábado, 2 de março de 2013

                             TERCEIRO DOMINGO DA QUARESMA

 QUEM É O CULPADO?
                                       


“... pensais que eram mais culpados do que todos os habitantes de Jerusalém?” (Lc. 13,4)

No seu caminho de vida Jesus se depara com acontecimentos trágicos; algumas pessoas lhe dão a notícia de uma horrível matança de alguns galileus no interior do Templo.
O quê estas pessoas esperam de Jesus? Desejam que Ele se solidarize com as vítimas? Querem que Ele lhes explique qual é a culpa dos galileus para merecer uma morte tão violenta? Por que Deus permitiu aquela morte sacrílega em seu próprio templo? Para os judeus não há castigo sem culpa.
Esta é a nossa permanente tendência em buscar culpados pelas desgraças, sejam provocadas pelo próprio ser humano, pela força da própria natureza, pelas doenças inesperadas, acidentes, etc...

Jesus desmascara tal atitude e rejeita toda crença de que as desgraças são um castigo de Deus, ou que as pessoas, de uma maneira ou de outra são culpadas. Jesus não revela o rosto de um Deus “justiceiro” que castiga seus filhos e filhas, “distribuindo” enfermidades, desgraças ou acidentes... por causa de seus peca-dos. Ele não perde tempo com considerações teóricas sobre a origem última das desgraças, nem da culpa das vítimas ou da vontade de Deus. Ele convida as pessoas a dirigirem o seu olhar para o presente,  fazen-do uma “outra leitura” dos acontecimentos trágicos.
Certamente, a primeira coisa não é perguntar-nos onde está Deus, mas, onde estamos nós diante das calamidades e sofrimentos. A pergunta não é “por quê Deus permite esta terrível desgraça?”, mas “por que nós consentimos e não reagimos solidariamente diante de tantos seres humanos que são violentados, que vivem na miséria e fome, que são indefesos diante da força da natureza?

Aquele que acompanha Jesus no seu caminho de vida, também “vai sendo talhado” pelas cenas que con-templa, com o coração aberto à dor e à aflição da humanidade. Essa dor esvazia nossas auto-suficiências e purifica nossas auto-imagens narcisistas, humanizando-nos. Ao contemplar o amor redentor de Deus revelado em seu Filho Jesus, nós nos perguntamos onde está Ele quando acontecem desgraças.
Há aqui uma inversão de perguntas: Para responder à interrogação -“Onde está Deus nas situações de sofri-mento e morte?”-, Deus nos desafia a responder à sua própria questão: “Onde está você no meu sofrimento?”.
Na Quaresma, de modo especial, “descemos” com Jesus até às dores da humanidade.
A solidariedade com os pobres, a fidelidade à vida evangélica, nos fazem descer aos porões das contra-dições sociais e políticas, às realidades inóspitas, aos terrenos contaminados e difíceis, às periferias insa-lubres das quais todos fogem e onde os excluídos deste mundo lutam por sobreviver. Ali nos encontra-mos com o rosto Compassivo de Deus, identificado com todas as vítimas da história.
É o Deus que se identifica com a dor do mundo, com a marginalização dos excluídos e com a desgraça de todos os miseráveis da terra. Não podemos chegar ao Deus de Jesus pelo caminho largo e fácil do poder e da razão, senão pela senda escarpada e dura da solidariedade e da loucura da Cruz.
A questão determinante para os cristãos está em buscar a Deus e crer na sua transcendência a partir da solidariedade com as vítimas, com os crucificados deste mundo e com todos os que necessitam calor humano, compreensão, tolerância, companhia e carinho.



Texto bíblico:   Lc. 13,1-9

Na oração: Examinar com cuidado a origem e a finalidade dos sentimentos de culpa pode produzir
                     um grande avanço no caminho da saúde interior e espiritual. Esclarecer, desmascarar a culpa, pode ser muito libertador, pois fortalece nossa atitude esperançosa e nossa  relação com  Deus, com o mundo e com os outros revela-se mais transparente e otimista. (Comentário do Evangelio - Padre Adroaldo SJ).


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